O ANDES-SN marcou presença na Cúpula dos Povos, realizada entre 12 e 16 de novembro, em Belém (PA). Em um contraponto direto ao caráter negocial da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), a atividade foi realizada na Universidade Federal do Pará (UFPA).
A Cúpula reuniu cerca de 25 mil pessoas credenciadas e lideranças de mais 65 países, reafirmando a força da ancestralidade e da solidariedade internacional contra o modelo colonialista e pela transição socioambiental justa. O encontro popular celebrou a unidade global e o acúmulo de dois anos de construção política, reforçando que a resposta à crise climática brota dos territórios e não dos mercados.

De acordo com a organização da Cúpula, o evento deixou um legado concreto de economia solidária e combate à fome, com destaque para a Cozinha Solidária. A iniciativa, construída pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPA), Movimento Camponês Popular (MCP), Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE), Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e outras organizações, serviu entre 9 mil e 12 mil refeições por dia.

A participação do ANDES-SN na construção e durante a Cúpula dos Povos foi uma deliberação do 43º Congresso do Sindicato Nacional, realizado no início deste ano em Vitória (ES). “Gostaria de registrar o acerto da decisão do congresso de estarmos na Cúpula dos Povos, uma participação protagonizada pelo ANDES-SN a partir da Regional Norte 2, especialmente pela Adufpa SSind., Sindufopa SSind. e Sindiuepa SSind., mas também com o Sinasefe, por meio do Sinteff e o Sinditifes, além dos estudantes indígenas da Apyeufpa”, afirmou Marcelo Barreira, 2º vice-presidente da Regional Leste do Sindicato Nacional.
Barqueata
Uma barqueata com mais de 200 embarcações e cerca de 5 mil pessoas marcou a abertura da Cúpula dos Povos, no dia 12. O ANDES-SN esteve presente com uma embarcação com dezenas de docentes.

Faixas e cartazes ornamentavam os barcos de grande e pequeno porte, durante o percurso de 7 milhas náuticas, denunciando as contradições da COP 30 e expondo as pautas dos povos, movimentos e entidades.
A manifestação teve início na Universidade Federal do Pará (UFPA), território da Cúpula dos Povos, e seguiu margeando o rio Guamá - que depois vira rio Guajará - até a Vila da Barca, área de palafitas onde parte da população vive sem qualquer saneamento.

Tenda da Educação
Construída pelo ANDES-SN em conjunto com outras entidades do setor da Educação, a Tenda da Educação pautou diversos debates durante os dias de Cúpula dos Povos. Ao longo da programação, foram promovidos debates, atividades culturais e articulações com movimentos do Brasil e de outros países.
Barreira, que também é da coordenação do Grupo de Trabalho de Política Agrária, Urbana e Ambiental (GTPaua) do Sindicato Nacional, contou sobre a experiência de participar das atividades. “Para mim foi uma oportunidade única participar da Tenda da Educação do ANDES-SN, no contexto da Cúpula dos Povos. No âmbito das atividades promovidas, a Tenda da Educação destacou-se como espaço privilegiado de reflexão, canal de visibilização de diversas lutas de estudantes e docentes, além de ser, ela mesma, um espaço de resistência diante da truculência de governos e empresas em seus ataques à educação pública”, disse.

Os painéis abordaram temas como “Educação e Luta de Classes diante da crise climática: desafios e enfrentamentos para a contra-hegemonia em territórios amazônicos”; “Capitalismo, conflitos climáticos, civilizatórios e direitos humanos”; “Dimensão geopolítica da Amazônia no coletivo dos povos”; “Futuro e Alternativas para a educação com território e com o clima” e “Conflitos e possibilidades da educação escolar indígena, quilombola e do campo na Amazônia”.
Os impactos da reforma curricular na educação básica e a formação de professores e professoras e currículo para a Educação antirracista também foram pautados durante os dias de debate. A Tenda da Educação recebeu ainda o painel “Cúpula das infâncias: Justiça climática e bem viver, só com participação de crianças e adolescentes”.

“O ambiente de diálogo, falas potentes e engajamento coletivo com a justiça climática e a diversidade socioambiental deu o tom das discussões sobre geopolítica, desde a periferia, da periferia, ou seja, de povos da floresta, quilombolas e indígenas, além de comunidades populares situadas fora das capitais e, sobretudo, fora do eixo do capital, seja Nova Iorque e seja a Faria Lima, lugares estes que financiam a invasão e destruição com os grandes projetos e sua consequência destrutiva de territórios e maretórios”, contou Barreira.
“Junto a essa temática, a realidade da multicampia e a educação superior em contexto de periferia esteve presente ao ser projetado um documentário sobre os desafios no campus de Cametá (UFPA), que exige o deslocamento por barcos e até dificuldades cotidianas, como o conserto de ar-condicionado num estado que tem sofrido mais que outros com o aquecimento global. Para esse fortalecimento na luta internacional pela diversidade e justiça socioambiental contra o capital, cabe destacar a potente manifestação em solidariedade à Palestina no festival Palestina Livre em nossa tenda”, acrescentou o docente.

Marcha Mundial pelo Clima
Mais de 70 mil pessoas ocuparam as ruas de Belém (PA), no sábado (15) para a Marcha Mundial pelo Clima. Organizada por integrantes da Cúpula dos Povos e da COP das Baixadas, a manifestação teve a participação de representantes de organizações de todos os continentes, de povos tradicionais e das comunidades paraenses.

Com palavras de ordem, alegorias, faixas, cartazes e muita força coletiva, a marcha saiu do Mercado de São Brás, no centro histórico da capital paraense, e percorreu 4,5 km até a Aldeia Cabana, símbolo de resistência amazônica. Carros de som alternavam entre discursos políticos, ritmos de carimbó e brega, com uma amostra expressiva da diversidade cultural e social do povo amazônida.
Docentes do ANDES-SN caminharam ao lado de indígenas, quilombolas, ribeirinhos, camponeses e manifestantes de todo o mundo, em um protesto que uniu as diversas lutas em defesa dos territórios, da vida e por justiça climática. As e os manifestantes cobravam também decisões efetivas da COP 30 no combate à crise climática.

“A Marcha Global, realizada no sábado, foi um momento marcante na luta classista por educação pública, cultura e a defesa dos povos e territórios amazônicos. Ante a riqueza de movimentos populares, a presença do ANDES-SN foi essencial para fortalecer o movimento pela educação pública com outros coletivos do movimento estudantil e dos TAEs, ampliando o debate sobre os desafios de estudantes, docentes e trabalhadores da educação contra os parasitas da COP 30”, contou Marcelo Barreira.
Agrotóxico mata!
A Marcha Mundial pelo Clima também denunciou a autorização, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), para o registro de 30 novos agrotóxicos. A decisão foi publicada no dia 11 de novembro, um dia após o início da COP 30 e na véspera da abertura da Cúpula dos Povos.

De acordo com Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), dezesseis produtos são classificados em relação ao potencial de periculosidade ambiental como Produto Muito Perigoso ao Meio Ambiente (Classe II), já os demais são considerados Produtos Perigosos ao Meio Ambiente (Classe III). Alguns, inclusive, são proibidos na União Europeia, que adota limites de resíduos extremamente rígidos.
“O Brasil está sediando um dos eventos mais importantes do debate de mudanças climáticas, mas o agronegócio segue dominando as tomadas de decisões internas. Vendemos uma imagem de preocupação com a sustentabilidade, mas seguimos com as torneiras abertas, mantendo a posição de maior mercado de veneno do mundo”, denunciou Jakeline Pivato, integrante da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.

Encerramento
A Cúpula encerrou sua programação no domingo (16), entregando ao presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, uma carta, construída coletivamente pelos movimentos, organizações e redes envolvidos na organização da Cúpula.
O documento reforça o compromisso com o internacionalismo popular, a solidariedade entre territórios e a construção de um Movimento Internacional de Atingidas e Atingidos por barragens, crimes socioambientais e impactos da crise climática. Ressalta, ainda, que somente a organização global dos povos poderá enfrentar as estruturas que alimentam desigualdades, violências e o colapso ambiental. “É tempo de avançar com mais unidade e consciência para enfrentar o inimigo comum e defender a vida”, afirma o documento.
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O 2 vice-presidente da Regional Leste do ANDES-SN pontuou, no entanto, que apesar da riqueza das atividades e da expressiva participação de seções sindicais e docentes, a coordenação política da cúpula dos povos não conseguiu promover o envolvimento efetivo das mil entidades construtoras da cúpula na redação da carta final. “Esse cenário evidencia a necessidade de fortalecer o diálogo e a articulação entre os movimentos sociais para futuras edições e ações conjuntas”, ponderou Barreira.
Confira a carta na íntegra AQUI
*Com informações da Agência Brasil, Cúpula dos Povos e ANA. Fotos: Eline Luz / Imprensa ANDES-SN