Uma exposição intitulada "Traduzindo o Genocídio: o projeto Gaza", em cartaz na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), foi alvo de depredação no dia 27 de agosto, o que provocou repúdio da comunidade acadêmica e de entidades sindicais.
As instalações, montadas entre 19 e 22 de agosto no Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN), reuniam bandeiras da Palestina, varais com imagens e textos sobre a violência contra crianças e jornalistas, cartazes com dados estatísticos e históricos, poemas, obras de artistas palestinos e um pequeno caixão de papelão para simbolizar a morte de crianças. A exposição é resultado de uma pesquisa de estudantes de Letras-Inglês e abordava a complexa questão do massacre em Gaza.
Apenas dois dias úteis após a conclusão da montagem, parte do material foi danificado e desapareceu. Em um dos locais da exposição, uma camiseta com a inscrição "REFA" e a imagem de mãos em oração foi pendurada no lugar do varal depredado. Em contexto religioso, a palavra significa “cura pela fé” ou “oração pela cura”.
Diante do ataque, a professora Junia Zaidan, organizadora da exposição e docente do Departamento de Línguas e Letras, enviou um comunicado à universidade em que denunciou o ocorrido e expressou a sua indignação. Zaidan classificou o ato como uma "violência física e simbólica" contra a autonomia didático-científica da universidade. Para ela e estudantes, o incidente é uma tentativa de intimidar e silenciar o apoio ao povo palestino e as críticas às ações de Israel.
"Estamos absolutamente perplexos e indignados com o ato de violência física e simbólica contra nossa autonomia didático-científica, de modo que repudiamos com veemência os ataques destinados a intimidar, invisibilizar e calar quaisquer pessoas que marquem posição de apoio ao povo palestino e crítica às ações genocidas do estado de Israel na Faixa de Gaza sobretudo, mas não somente, desde outubro de 2023", escreveu a docente, no e-mail enviado no dia 27 de agosto ao Departamento de Línguas e Letras (DLL).
O ANDES-SN divulgou nota, na terça-feira (2), em solidariedade à professora e destacou o contexto de "horror e de desumanização intensificada do povo palestino". O texto mencionou que "o Estado colonial de Israel, com suporte político e militar do imperialismo estadunidense, realiza uma limpeza étnica na Palestina, o que tem sido denunciado por inúmeras entidades". O sindicato citou dados alarmantes, como a morte de mais de 60 mil palestinas e palestinos, incluindo mais de 50 mil crianças mortas ou feridas, e mais de 246 jornalistas, um número superior ao de qualquer outra guerra registrada.
A entidade enfatizou a importância da resposta a tais ataques. "A tentativa de setores conservadores e reacionários no Brasil - aliados do sionismo mundial - de atacar o caráter plural e democrático de nossas IES deve ser veementemente combatida, para não corrermos o risco de sermos derrotadas(os) diante do projeto de fascistização da vida social", afirmou o ANDES-SN.
O Departamento de Línguas e Letras (DLL) e o Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN) também repudiaram os ataques e manifestaram o apoio à professora e às e aos estudantes. "Assim como o povo palestino é silenciado e vilipendiado em sua própria terra, também aqui foi silenciada a discussão crítica sobre a Palestina; assim como hospitais, escolas e espaços civis são atacados em Gaza, também a universidade pública e os saberes científicos foram atingidos neste ato de intolerância", afirmou o DLL, que se comprometeu com a reinstalação da exposição e com a garantia do espaço de fala para a organização e estudantes.
O CCHN se manifestou, em nota, sobre o episódio. "O CCHN repudia qualquer ação que objetive coibir e silenciar a diversidade de pensamento e o dissenso", afirmou a nota, acrescentando que "ataques como este colocam em risco a autonomia didático-científica dos/das docentes e não contribuem para a formação crítica de nossos estudantes, além de afrontarem a própria Universidade e seus valores democráticos, de liberdade de pensamento e expressão.”
Junia Zaidan reiterou o compromisso da universidade pública com a liberdade de expressão e a formação crítica. "Refaremos os projetos, reinstalaremos as exposições quantas vezes forem necessárias até que cesse o martírio de um povo vitimado pela ação de alguns ou inação/conivência de tantos”, ressaltou a docente.
ANDES-SN em luta
O ANDES-SN tem decisões congressuais de apoio à causa palestina e de participação e fortalecimento do movimento BDS - Boicote, Desinvestimento e Sanções, que tem por objetivo pressionar Israel a cumprir o direito internacional, acabando com a ocupação e o apartheid contra o povo palestino.
No mês de agosto, o ANDES-SN publicou matéria no InformANDES denunciando os planos de Israel para ocupar Gaza.
Confira a nota do ANDES-SN aqui
*Fotos: Redes sociais / @translatinggaza
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