Após três dias de muitos debates e deliberações, o 68º Conad do ANDES-SN foi encerrado na noite de domingo (13). Com o tema central “Unificar as lutas anticapitalistas: contra o colapso socioambiental, em defesa da vida e da educação pública”, o evento reuniu cerca de 350 pessoas, entre docentes, trabalhadores e trabalhadoras do ANDES-SN e seções sindicais, convidadas e convidados, entre outros.
As atividades ocorreram no campus sede da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), na capital Manaus, de 11 a 13 de julho, sob organização da Associação dos Docentes da Ufam (Adua – Seção Sindical do ANDES-SN). O 68º Conad foi marcado pela posse da nova diretoria da entidade para o biênio 2025-2027.
Moções
A plenária de Encerramento teve início às 23 horas do domingo (13), com a leitura das moções apresentadas durante o 68º Conad. No total, a plenária aprovou 18 moções propostas pela diretoria do Sindicato Nacional, por seções sindicais e por docentes da base.
Entre vários temas abordados nos textos, as e os participantes manifestaram repúdio à aprovação, pelo Senado Federal, do Projeto de Lei nº 2159/21, conhecido como “PL da Devastação”. O projeto institui a chamada Licença por Adesão e Compromisso (LAC), que desestrutura o sistema de licenciamento ambiental brasileiro.
Também expressaram repúdio à participação da Petrobrás no genocídio do povo palestino, conforme denúncia da ONU, e à pulverização de agrotóxicos por drones no Ceará. As e os docentes manifestaram apoio à professora Nathália Wicpolt, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), vítima de racismo institucional, e ainda repudiaram o tarifaço imposto pelo governo Trump ao Brasil e as políticas econômicas regressivas.
O cumprimento integral do acordo firmado com docentes federais em 2024, a atuação do Ministério Público Federal em defesa das ações afirmativas, bem como a implementação de políticas específicas para pessoas trans e travestis nas instituições federais de ensino foram temáticas abordadas nas moções.
As e os participantes do 68º Conad declaram solidariedade ao professor Iguatemi Rangel, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), e repudiaram a Instrução Normativa nº 261/2025, que impõe sorteio em ações afirmativas étnico-raciais. Condenaram também os atos racistas contra a servidora técnico-administrativa Maiara Lopes e o docente Gustavo Rodrigues, no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), e a criminalização da luta das e dos servidores técnico-administrativos da Universidade Estadual de Goiás, entre outras moções aprovadas.
Carta de Manaus
Fernanda Maria Vieira, secretária-geral do ANDES-SN, fez a leitura da Carta de Manaus, que traz uma síntese dos debates e deliberações dos três dias do evento deliberativo do Sindicato Nacional.
O documento destacou que 68º Conad foi marcado por rituais ancestrais, manifestações culturais e a posse da nova diretoria, destacando a diversidade e a resistência frente ao avanço das ofensivas do Capital, do conservadorismo, da extrema direita e das políticas de extermínio.
“O Conad de posse da nova diretoria do ANDES-SN, para o biênio 2025-2027, foi marcado por simbolismos, diante de um presidente negro, vindo da periferia maranhense e professor EBTT. E, nesse encontro das diversidades que marcam nossos corpos, a professora Jacyara nos embala: Exu sorriu, Dandara dançou e Zumbi celebrou! Quilombo presente! O Conad se realiza em um cenário que impõe nossa unidade diante do avanço do Capital sobre as nossas vidas e direitos”, disse.
A Carta de Manaus destacou ainda os debates sobre o cenário socioambiental, o ataque aos povos indígenas e à soberania nacional, e sobre as reformas que ameaçam os direitos da classe trabalhadora. O repúdio ao genocídio na Palestina, a denúncia do racismo institucional e da tentativa de fragilização da política de cotas em concursos públicos, com a instituição de sorteio, foram abordados no documento.
“O 68º Conad se encerra com a mesma certeza da experiência vivenciada no Amazonas e seus encontros — e, por que não dizer, encantos — das águas, que por grandes extensões não se juntam, mas caminham lado a lado, despontando a força e a beleza que a unidade produz. Que nossas diversidades e diferenças sigam a sabedoria ancestral das águas amazonenses. Que, após correrem separadas, se juntam — e que possamos, assim, ampliar nosso potencial emancipatório de luta em defesa da educação pública em nosso país, trilhando os muitos caminhos aos Lençóis Maranhenses. Manaus, 13 de julho de 2025”, desejou a diretora do Sindicato Nacional, fazendo menção o 69º Conad, que ocorrerá em São Luiz do Maranhão, em 2026.
Encerramento
Em seu discurso final, Cláudio Mendonça, presidente do ANDES-SN, agradeceu à gestão anterior pelo trabalho desempenhado nos últimos dois anos e reconheceu as lutas e os enfrentamentos travados por cada diretor e diretora. Ao saudar a nova diretoria, destacou que, com paciência, fraternidade e luta, será possível enfrentar os ataques e seguir avançando nas conquistas da categoria.
O docente leu um poema de sua autoria, escrito no contexto da apuração do segundo turno das eleições de 2018. Segundo ele, um momento de profunda angústia para muitos lutadores e lutadoras no país, em que, apesar da dor, também havia esperança e disposição para enfrentar o governo eleito e os ataques neoliberais que se seguiram com a posse de Jair Bolsonaro.
“Quando apagaram primeiro aquela luz, o som assustador que chegava, anunciava que os ventos carregados de ferrugem, tão aqui perto, se aproximavam, apontando, àqueles que ainda querem sonhar, seus tratados sobre a velha nova vida, sua magia, imaginação, amor. Mensagens também chegaram, clamando: todos juntos, todas juntas, todos juntes, mãos fortes, unidas. Lembrem, lembrem, lembrem: às vezes, o canto secreto da casa nos guarda. No mundo pesado lá fora, só que o mundo é gigantemente grande — muito maior que tudo isso”, iniciou a leitura.
Mendonça afirmou que, mesmo diante do medo, da dor e do sufocamento, há resistência. Ele citou nomes como o de Margarida Alves, Josino Tavares, Marielle Franco, Pagu e tantos outros e outras, cujos legados seguem inspirando força e luta.
“Lembre-se, eles já mataram tantos de nós. Nós, mesmo abatidos, encontramos no fundo as mãos dadas e miras firmes. Nós, carregando a tradição poética, desenhamos nos muros, cinzas, o grito de alerta, suspense, coragem, desenharemos. Quando amanhecer, tente sorrir, veja o sol, essa estrela poderosa. Lembre-se daquela pessoa que resiste contigo, daqueles que ainda sabem cantar. No fundo dos nossos meios, encontramos nosso sentido, nossas flores perdidas, o nosso mais delicado jardim. Nós, mesmo atordoados, escreveremos uma nova história, o mais belo jardim”, declamou o presidente do Sindicato Nacional, encerrando o 68º Conad do ANDES-SN.
Compuseram a mesa da Plenária de Encerramento, além de Cláudio Mendonça e Fernanda Vieira, Sérgio Barroso, 1º tesoureiro; Maria Raquel Vega, 1ª vice-presidenta da Regional Rio de Janeiro; Marcelo Vallina e Letícia Mamed, 1º e 2ª vice-presidentes da Regional Norte 1, respectivamente; e Ana Lúcia Silva Gomes, presidenta da Adua SSind.
Números do Conad
O 68º Conad contou com a participação de 80 delegados e delegadas, 194 observadores e observadoras, que representaram 83 seções sindicais de todo o país, além de 34 integrantes da diretoria do Sindicato Nacional.
Fotos: Eline Luz / Imprensa ANDES-SN
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